Infelizmente por falta de tempo, não posso repercutir on-line as notícias que saem na grande mídia. Algumas no meio da enxurrada de informações que recebemos diariamente, por todos os veículos, me chamam muito a atenção e sobre essas não posso deixar de oferecer aos meus leitores um pouco do que penso.
Recentemente a Abralatas e a ABal divulgaram os números referentes a 2008 mostrando que o Brasil manteve-se - como a 5 anos acontece - no topo da reciclagem de latas de alumínio (aquelas de refrigerante e cerveja). Até aí, uma notícia interessante. Se entrar nos sites das associações então, você se enche de orgulho! São muitos números e análises mostrando nossa superioridade. O ruim é sair na rua e cruzar com a realidade.
Exatamente por causa da característica de nossa sociedade é que temos tal recorde. Neste país desigual, a reciclagem acontece por força da luta pela sobrevivência. Deveria, mas não é uma questão cultural. Basta ir a qualquer estabelecimento comercial e perceber. Poucos são os lugares onde tem-se ao menos um reservatório separado para as latas. Estamos longe de ter coleta seletiva.
Esse primeiro lugar é dos catadores. Os milhares que existem Brasil afora. Eles que todos os dias, faça chuva ou sol, colocam suas mãos e expõe seus corpos a sujeira contidas nas latas de lixo, abrindo sacos plásticos que além das tais latas contém lixo orgânico quase sempre em decomposição, com fungos, bactérias e muitas outras coisa nojentas e prejudiciais a saúde.
Por pouco, muito pouco, eles colocam suas vidas em risco, nos lixões das grandes cidades. É preciso arrumar 75 latinhas para fazer um quilo. Fico imaginando quantas sacolas de lixo eles abrem, em quantas latas de lixo eles colocam a mão para chegar nessa soma… E com esse quilo, ganha-se em média apenas de 1 a 3 reais, dependendo do lugar do Brasil.
Não sou contra a reciclagem, ela é fundamental para a sustentabilidade do planeta. Mas deve ser questão cultural. Quando todos tivermos em casa coleta seletiva, quando tivermos o hábito de recolhermos e separarmos nossos detritos, aí sim poderemos comemorar. Por enquanto é apenas mais um recorde que reflete bem a nossa sociedade. Um país que é o 8º em desigualdade social ao mesmo tempo que é também a 10º maior economia do planeta.
Enquanto fotos como as que reproduzo na galeria abaixo continuarem a serem facilmente registradas, não temos o que comemorar.